Não era um dia qualquer, era o dia do seu aniversário. Faz anos que isso
aconteceu, mas eu nunca posso esquecer ou desapegar-me dessa lembrança, assim
como tudo que me remete a você.
Às vezes me pego vendo em minha mente o filme desse dia, cena por cena,
foi uma das poucas vezes em que estive tão perto de você de uma maneira tão
intima.
Era fevereiro, lembro que éramos jovens demais naquele tempo, mas dês de
lá, ou em antes mesmo, meu coração já batia por você. Estudávamos em uma escola
publica que ficava em um pequeno povoado e morávamos na zona rural. Naquele dia
estava chovendo demais e por isso fomos dispensados mais cedo das aulas.
Ainda poço ver nós dois voltando para casa de Kombi nos fins de tarde, e
naquele dia não foi diferente, mas no meio da estrada havia caído uma torre de
transmissão de energia, não deu para passar, e por isso voltamos ao povoado
onde ficava a escola, em um bar, comemos pamonhas sentados no meio-fio da
calçada, e como sempre nada tinha abalado o seu sorriso.
Brincamos da situação e rimos dela também, passamos os dedos nas pamonhas,
e limpei as migalhas da sua boca como meus dedos, e você passou migalhas em
mim, recebi um beijo na testa, nada com más intenções, era uma intimidade muito
benigna para isso.
Demos uma imensa volta por outras estradas na tentativa de ainda chegarmos
a casa ainda naquela noite, várias arvores estavam caídas pela estrada, algumas
até no meio dela, bloqueando nossa passagem; por isso paramos muitas vezes para
cortarmos ou quebrarmos os galhos, arrastarmos troncos e até postes de energia,
tudo estava escuro.
Durante uma parte do caminho você deitou com a cabeça no meu colo,
perguntou coisas sobre mim, que por minha vez neguei todas, inventei respostas
e criei mentiras absurdas que me mataram por dentro, senti seu corpo perto do
meu tantas vezes naquela noite, seu abraço, eu chorei disfarçadamente com o
rosto virado para a janela, era muito surreal, foi uma das chances que jóquei
fora, foi uma das vezes que pode entregar-me e não me entreguei que pode me
redimir e não me redimi que pode declarar-me e não me declarei, falar e não
falei. Mas você disse que me amava mais do que muitas outras coisas, ainda não
pode aceitar isso, se amava, acho que não ama mais, e se amava mesmo, não amava
como eu amava. Lembranças, saudades, esperanças, quem sabe acho outras chances
em outro fevereiro.
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